Por que morar junto nem sempre é o melhor caminho?
Estamos acostumados com a ideia de que seres humanos são gregários e gostam de se amontoar em torno daqueles que amam. O script está configurado para os casais como um roteiro pré-definido: ficar, namorar, noivar, casar ou juntar e morar junto. Mas e se uma das partes (ou ambas) não se sente confortável para dividir o espaço físico? Isso seria patológico ou sinal de falta de amor? Um olhar apressado e conservador diria que esse casal tem problemas graves e que não, eles não se amam de verdade – onde já se viu casar e não aproveitar a maior dádiva disso, que é passar o maior tempo possível ao lado da pessoa escolhida? Num primeiro momento, pode ser difícil aceitar, mas não: não é todo mundo que tem habilidade e vontade de ficar debaixo do mesmo teto por condição.
E aí entra uma questão que merece a nossa atenção. O que vale mais: a quantidade do tempo que se passa ao lado do outro ou a qualidade desse tempo? Ficar o dia inteiro um ao lado do outro, mas cada qual prestando atenção no programa do Faustão, ou passar algumas horas juntos conversando, tomando um drink ou assistindo a um bom filme abraçados? Talvez seja justamente a possibilidade de estar separados que faz com que os casais não convencionais escolham ficar debaixo do mesmo teto de forma saudável – de um jeito que, inclusive, muitos casais que vivem debaixo do mesmo teto não conseguem.
Juntar os trapinhos pode não ser um mar de rosas
O ideal romântico sempre nos vendeu a ideia de que estar ao lado da pessoa amada é a melhor coisa do mundo. Porém, a convivência diária no mesmo espaço pode trazer problemas. Aqui eu destaco alguns deles:
- Concessão de espaço físico: na hora do rush da casa muitos se atropelam, colidem, se estranham e até brigam pela pia ou o chuveiro. Nem todas pessoas tem aquela compreensão necessária de priorizar os momentos de cada um. Não custaria nada acordar um pouco mais cedo, adiantar seu lado e deixar o outro livre para seguir seu dia bem.
- Generosidade logística: existem espaços pessoais e espaços comuns numa casa. Muitos casais não conseguem entender isso, deixando objetos, roupas e bagunças pessoais espalhadas pela casa como se fosse uma extensão do seu canto da bagunça. Nem todos precisam compartilhar do mesmo desleixo.
- Estabelecer limites pessoais: tempo e espaço não são duplicáveis. No aqui e agora não dá pra incluir tudo o que se quer. Muitos casais não conseguem perceber que apesar de estarem juntos não estão grudados ou fundidos. Essa queda de braço entre aquele que foge e aquele que tenta grudar pode desgastar o relacionamento e punir injustamente quem tem mais necessidade de espaços pessoais.
- Necessidade de intimidade: emails, gavetas, bolsas, celulares, privadas, agendas e pensamentos são espaços sagrados e dedicados à particularidade. Bom senso é fundamental ao respeitar essa intimidade que não precisa ser compartilhada como prova de amor.
- Particularidades: existem pessoas que tem hábitos e manias inconciliáveis com a partilha de espaço físico. Se certos rituais e modos próprios de agir não são considerados como parte de quem a pessoa é, não adianta forçar a barra. Ninguém precisa de um professor dando sermão de como bem agir no dia-a-dia.
- Necessidade de solidão: ainda que seja delicioso compartilhar a sobremesa, nem sempre uma pessoa precisa estar ao lado ou encostada para demonstrar afeto. Certos momentos pedem recolhimento, silêncio, introspecção e uma solidão voluntária.
Se um casal consegue respeitar essas particularidades do convívio já é um bom sinal, mas se a proximidade física impede esse essa fluidez, chega a hora de se pensar em outras alternativas. Morar separado não é um crime, e pode ser gostoso revezar seus espaços de convívio. Na vida de casal a única coisa que deveria ser consenso é fazer com que a felicidade se multiplique para ambos. De resto, é tudo negociável, meus caros.
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